Nanomedicina e o câncer: solução ou perigo?

As nanopartículas estão ao nosso redor e não tem como fugir delas. Elas são encontradas em alimentos processados, cosméticos e na medicina. De acordo com pesquisadores da Universidade Nacional de Cingapura essas minúsculas partículas podem ter efeitos colaterais prejudiciais embora tenham grande potencial e aplicações promissoras.

A nanomedicina para tratamento do câncer é projetada para matar células cancerígenas, mas pode acelerar a metástase (espalhamento do próprio câncer) através da formação de lacunas nas paredes endoteliais dos vasos sanguíneos.

A figura 1 apresenta a estrutura geral de um vaso sanguíneo para melhor entendimento de como esses nanomateriais, tem a capacidade de atravessar o endotélio.

Adventícia: camada constituída por tecido conjuntivo, torna-se gradualmente contínua com o tecido conjuntivo do órgão pelo qual o vaso sanguíneo está passando. Média: formada principalmente por camadas concêntricas de células musculares lisas, interpostas entre as células musculares lisas. As células musculares lisas são as responsáveis pela produção destas moléculas da matriz extracelular. Túnica Íntima: é constituída por: (1) uma camada de células achatadas (células endoteliais), revestindo internamente o vaso; caracterizando o epitélio simples pavimentoso, chamado de endotélio; (2) um delicado estrato subendotelial constituído por tecido conjuntivo frouxo; (3) lâmina elástica interna, o qual é o componente mais interno da íntima, constituída principalmente de elastina, possui aberturas (fenestras que permitem a difusão de substancias para nutrir células situadas mais profundamente na parede do vaso. Devido a contração do vaso, esta membrana geralmente se apresenta em corte, com seu trajeto ondulado e sinuoso. O endotélio é a camada fina de tecido epitelial que reveste a parede interna de todos os vasos sanguíneos, desde o coração até os capilares.

Fonte: https://www.unifal-mg.edu.br/histologiainterativa/sistema-circulatorio/

O EXPERIMENTO

Em um modelo celular de câncer de mama, Leong et al. (2019) descobriram que nanopartículas largamente utilizadas usadas em nanomedicina como as nanoparticulas de ouro, de dióxido de titânio, de prata e de silício aumentam a distância entre as células dos vasos sanguíneos tornando mais fácil para as células cancerígenas, entrarem e saírem dos vasos sanguíneos. Experimentalmente, a intravasamento in vivo foi avaliada com camundongos imunodeficientes fêmeas através da implantação do tumor na almofada de gordura mamária e introduzindo NPs de TiO2 por injeção na veia.

Na figura 2 é representada a infiltração endotelial induzida por nanomateriais, onde as NPs (Nanopartículas) de TiO2 (dióxido de titânio) podem promover intravasamento e extravasamento in vivo de células de câncer de mama rompendo a barreira dos vasos sanguíneos.

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Fig.2: Nanopartículas de dióxido de titânio (NP) promovem o intravasamento e o extravasamento in vivo de células de câncer de mama ao destruir a barreira dos vasos sanguíneos. Fonte: Peng, F. et al. (2019)

O fenômeno batizado por Peng et al. (2019) devazamento endotelial induzido por nanomateriais”, acelera o movimento das células cancerígenas do tumor primário e também faz com que as células cancerígenas circulantes escapem da circulação sanguínea. Isso resulta em um estabelecimento mais rápido de um tumor local e inicia novos locais secundários, anteriormente não acessíveis às células cancerígenas.

A figura 3 apresenta este rompimento da integridade da barreira celular. Quando as células dos vasos sanguíneos são tratadas com uma exposição a nanopartículas de dióxido de titânio por 30 minutos, as lacunas entre as células começam a se formar. Essas lacunas podem possibilitar que células cancerígenas migrem para fora do tumor primário ou da circulação sanguínea.

Fig. 3: Nanopartículas de dióxido de titânio (NPs TiO2) interrompeu a integridade da barreira celular endotelial. Células dos vasos sanguíneos intactas (esquerda) e lacunas formadas entre as células (direita) após tratamento.
Fonte: Peng, F. et al. (2019)

E QUAIS AS CONSEQUENCIAS DISSO?

Leong (2019) explicou que, com base nas descobertas deste estudo, para paciente com câncer, a exposição a longo prazo a nanopartículas através de produtos cotidianos ou poluentes ambientais pode acelerar a progressão do câncer. As interações entre nanomateriais e os sistemas biológicos no corpo precisam ser levados em consideração durante o projeto e o desenvolvimento da nanomedicamentos para o câncer.

Do memso modo, é crucial garantir que o nanomaterial que carrega o medicamento anticancerígeno não acelere involuntariamente a progressão do tumor.

À medida que surgem novos avanços na nanomedicina, é preciso entender porquê tais nanomateriais desencadeiem resultados inesperados.

Para informações complementares acesse:

Peng, F. et al. (2019) Nanoparticles promote in vivo breast cancer cell intravasation and extravasation by inducing endothelial leakiness. Nature Nanotechnology. https://doi.org/10.1038/s41565-018-0356-z.

Por: Monique Ferreira Leal, aluna do curso de extensão UFRJ ” Introdução à Nanotecnologia Aplicada a Medicamentos e cosméticos, Ed2″

NANOTECNOLOGIA E O COVID-19

Como a Nanotecnologia está ajudando na pandemia do COVID-19?

                                                                                  

A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-COV-2) causada pelo coronavírus detectado primeiramente na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019 gerou e ainda gera inúmeras mortes ao redor do mundo.

Com isso, toda a comunidade científica se voltou para a busca de novas tecnologias e formas de combater o “novo vírus” a fim de conter a sua transmissão.

A descoberta de novas funções de materiais já conhecidos em uma escala nanométrica (1-100 nm) tornou a Nanociência uma das áreas mais promissoras de todos os tempos.

Com a redução do tamanho das partículas há uma maior relação área superfície/massa que implica nas propriedades físico-químicas das substâncias, podendo modificar sua condutividade elétrica, elasticidade, resistência, cor e reatividade.

Fonte: Quim. Nova, Vol. XY, No. 00, 1-14, 200. http://static.sites.sbq.org.br/quimicanova.sbq.org.br/pdf/RV20190374.pdf

A Nanotecnologia possui inúmeras aplicações como em embalagens, cosméticos, construção civil, indústria têxtil, odontologia, comércio e na Nanomedicina aplicada ao desenvolvimento de vacinas, novos métodos de diagnóstico in vivo e in vitro, dispositivos médicos para tratamento e aprimoramento de agentes terapêuticos [1]

Os nanomateriais precisam apresentar algumas características para serem utilizados como por exemplo, serem solúveis em meio biológico, biocompatíveis, seguros, atóxicos e ter boa biodisponibilidade.

Em relação ao COVID-19, pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) [2] dedicaram seus estudos no desenvolvimento de tecidos tecnológicos com ação antimicrobiana e antiviral com o intuito de diminuir a transmissibilidade do coronavírus, de bactérias e fungos usando nanomateriais como o óxido de grafeno, óxido de grafeno reduzido e nanofios de prata aderidos a tecidos convencionais como o algodão e o TNT, comuns em hospitais.

A área de diagnóstico também vem sendo bastante explorada com os kits de diagnósticos a base de nanopartículas que atuam no conceito de Point-of-Care (POC). [3]

São testes rápidos com volumes pequenos de amostra medindo taxas glicêmicas, hormonais, de coagulação, entre outras. Um exemplo de sistema desenvolvido pelo pesquisador Seo et. al. [4] utiliza o grafeno para detectar o vírus em baixíssimas concentrações [femtoMolar (10-15 M)].

O biossensor do dispositivo foi produzido revestindo folhas de grafeno do FET (Transistor de efeito do campo) com um anticorpo específico contra a proteína spike SARS-CoV-2.

Diagrama esquemático do procedimento de operação do sensor COVID-19 FET. Grafeno como um material de detecção é selecionado e o anticorpo de pico SARS-CoV-2 é conjugado na folha de grafeno via éster N -hidroxisuccinimida do ácido 1-pirenobutírico , que é uma molécula de interface como um ligante de sonda.

Outro estudo [5] utiliza nanopartículas do polímero poliestireno para a detecção de anticorpos anti-SARS-COV-2 em amostras de soro humano através de chips de diagnóstico.

A presença de anticorpos é revelada na região do dispositivo na forma de listras coloridas indicando testes positivos ou negativos.

É um imunoensaio de fluxo lateral rápido e sensível (LFIA) que usa nanopartículas de poliestireno dopado com lantanídeo (LNPs) para detectar IgG anti-SARV-CoV-2 em soro humano.

A tomografia computadorizada de tórax é usada como método diagnóstico confirmatório para amostras com alta suspeita clínica, mas que foram descartadas para SARS-COV-2 por RT-PCR.

O uso do método imunodiagnóstico simples e rápido pode ser uma alternativa mais prática e rápida à tomografia de tórax.

 Chen et al., Anal. Chem., • DOI: 10.1021/acs.analchem.0c00784 – BOX com dispositivo diagnóstico

A nanotecnologia também está revolucionando os métodos de produção de vacinas, principalmente para COVID-19 [3].

As principais vacinas com essa tecnologia são Pfizer – BioNTech e Moderna/NIAID que utilizam nanopartículas lipídicas que transportam o RNA do vírus.

A Moderna/NIAID é capaz de codificar a proteína Spike do coronavírus e fazer com que as células hospedeiras produzam respostas imunes anti-proteína Spike. Já a Pfizer-Biotech é baseada em uma plataforma de RNA mensageiro modificada transportada por nanopartículas lipídicas [6].

Como podemos ver, a Nanotecnologia está contribuindo de diversas formas no desenvolvimento de vacinas, melhoramento de fármacos, na indústria têxtil e principalmente em métodos de combate ao coronavírus. 

Referências:

[1] CANCINO, J. et. al. Nanotecnologia em medicina: aspectos fundamentais e principais preocupações. Revisão Quím. Nova 37 (3).  Jun, 2014.  https://doi.org/10.5935/0100-4042.20140086

[2] Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Nanotecnologia no combate ao coronavírus – Notícias UFJF Acesso 30/07/2021.

[3] NanoEach. Universidade de São Paulo (USP). A Nanotecnologia no Combate ao Coronavírus. http://www.each.usp.br/nanoeach/?p=2160 Acesso 30/07/2021.

[4] Giwan Seo. Geonhee Lee, Mi Jeong Kim, Seung-Hwa Baek, Minsuk Choi, Keun Bon Ku, Chang-Seop Lee, Sangmi Jun, Daeui Park, Hong Gi Kim, Seong-Jun Kim, Jeong-O Lee, Bum Tae Kim, Edmond Changkyun Park*, and Seung Il Kim*. Rapid Detection of COVID-19 Causative Virus (SARS-CoV-2) in Human Nasopharyngeal Swab Specimens Using Field-Effect Transistor-Based Biosensor. Acs Nano. Abril, 2020. https://doi.org/10.1021/acsnano.0c02823

[5] Zhenhua Chen, Zhigao Zhang, Xiangming Zhai, Yongyin Li, Li Lin, Hui Zhao, Lun Bian, Peng Li, Lei Yu*, Yingsong Wu*, and Guanfeng Lin* Rapid and Sensitive Detection of anti-SARS-CoV-2 IgG, Using Lanthanide-Doped Nanoparticles-Based Lateral Flow Immunoassay Anal. Chem. Abril, 2020. https://doi.org/10.1021/acs.analchem.0c00784

[6] PACHECO, T. ,J. A. et. al. Nano COVID-19 Vaccines: the firsts RNA lipid nanoparticle vaccines being approved from history-Review Research Society and Development 9(12):e20191211123, Dezembro, 2020. DOI:10.33448/rsd-v9i12.11123

Por: Larissa Ribeiro Manhães – aluna do curso de extensão “Introdução à Nanotecnologia aplicada a Medicamentos e Cosméticos”, Ed2, Faculdade de Farmácia, UFRJ.

Nanocosméticos

o que você não vê, te faz mais bela!!!

Com o passar dos anos, os consumidores estão se tornando cada vez mais exigentes com os produtos cosméticos que buscam, com a preocupação voltada para adquirir produtos eficientes e eficazes no processo de embelezamento e bem-estar.

Então a nanotecnologia surge como a solução para sanar a necessidade dos consumidores. E nos perguntamos o porquê que partículas tão nanométricas prometem “milagres” para solucionar as questões que envolvem o problema de embelezamento.

Eis a resposta: nesta escala nanométrica ocorrem vários efeitos importantes:

  • há a melhora da penetrabilidade dos ativos na pele,
  • os ativos também são estabilizados quando estão nanocarreados,
  • apresentam melhorias nas suas propriedades físico-químicas como a solubilidade aumentada em meio aquoso,
  • há a redução das reações irritativas quando o ativo está complexado no nanocarreador,
  •  também possibilita o aumento da eficiência da hidratação da pele,
  •  proporcionar a liberação controlada ou gradual dos ativos,
  • reduz a incompatibilidade do ativo na formulação
  • contribui para melhoria do sensorial das formulações e, consequentemente, favorece a sua aceitabilidade pelo consumidor.

E outra notícia muito boa é que, cada dia mais, há lançamentos de produtos com nanotecnologia nos quais os nanosistemas são de origem vegetal, biodegradáveis e praticamente sem riscos toxicológicos.

É a química verde de “mãos dadas” com a nanotecnologia e trazendo benefícios para a nossa beleza e bem-estar!

Por: Fabiana O. Kotwiski, aluna do CURSO DE EXTENSÃO “INTRODUÇÃO À NANOTECNOLOGIA APLICADA A MEDICAMENTOS E COSMÉTICOS” UFRJ

Doação de órgãos

Introdução

A doação de órgãos (Figura 1) é um ato pelo qual manifestamos a vontade de doar uma ou mais órgãos ou tecidos do nosso corpo com o intuito de auxiliar no tratamento de outras pessoas, seja com uma doação direta (uma doação para uma pessoa específica) ou uma doação para a Central de Transplantes e Organizações de Procura de Órgãos (OPO).1

Figura 1: Imagem de capa. Fonte: Medicina S/A. Novartis abre programa de inovação voltado a transplantes. https://medicinasa.com.br/novartis-transplantes/ Acesso: 26/07/2021

Como ela funciona? 

No Brasil, a doação de órgãos funciona através da ação da OPO, que em uma ação conjunta com as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) de todo o país, que procuram possíveis candidatos, os quais possuam um ou mais órgãos que sejam apropriados para doação.2

A maioria da doação de órgãos é feita pós-morte, mas algumas ainda podem ser feitas de forma direta ainda vivo, para parentes até o quarto grau ou cônjuges; mas outras pessoas podem ser doadoras se houver uma autorização judicial.2,3

No caso de doação pela Central de Transplantes, ela é feita depois do diagnóstico de morte encefálica (morte cerebral). O corpo é analisado para identificar todos os tecidos e órgãos que podem ser viáveis para a doação. Depois da retirada das doações, a Central de Transplantes verifica a Lista única para achar os pacientes que irão receber cada doação.1,2

O que pode ser doado? 

No Brasil só podem ser doados alguns órgãos e tecidos (Figura 2) e caso seja doações diretas (doador ainda vivo) podem ser doados um dos rins, parte do fígado, do pulmão ou da medula óssea. Porém, em doações realizadas pela Central de Transplantes, é recomendado que a doação seja feita logo após a morte encefálica em um hospital, onde a retirada ocorre antes que a morte cause a destruição do tecido.2,4

Nos casos de mortes cardiorrespiratórias em ambiente hospitalar, ainda é possível haver doações, mas apenas de tecidos e não de órgãos; portanto apenas córnea, vasos, pele, ossos e tendões podem ser doados.3

Figura 2: Demonstração dos órgãos e tecidos que podem ser doados.

Lista de Espera

Depois que um doador é identificado, é informado para o Centro de Transplantes qual órgão será doado, e é verificado na Lista única quem deverá receber cada doação. Ela é separada para cada tipo de doação e cada candidato é separado dentro da lista dependendo da severidade da sua condição, do tipo sanguíneo do doador e do paciente, do tamanho do órgão, da localidade que o paciente esteja e do tempo que ele está na lista.5

O tipo sanguíneo é importante para evitar que o corpo do paciente que receberá o órgão não rejeite o novo órgão. O tamanho do órgão é relevante porque ele precisa encaixar na cavidade torácica sem problemas, considerando que alguns órgãos transplantados podem inchar depois da operação. A localização do paciente é tão relevante quanto a localização do doador: é importante que eles estejam a uma distância apropriada um do outro para que os tecidos do órgão não morram durante o transporte.1,2

A lista é diferente de estado para estado e depende dos governos estaduais para funcionar de um jeito eficaz; mesmo assim as listas regionais são geridas pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e pelo Ministério da Saúde.1,6

Perguntas frequentes sobre doação de órgãos

1- Quem retira os órgãos?

Eles são retirados em um centro cirúrgico por cirurgiões certificados pelo Ministério da Saúde, que passaram por um treinamento específico para essa função. Os tecidos podem ser retirados por cirurgiões dermatologistas e levados diretamente para o banco de tecidos.2

2- Existe algum custo para a doação?

Não, a doação é feita gratuitamente por órgãos públicos.7

3- A doação dos órgãos impede que o doador tenha algum processo mortuário como um velório com caixão aberto? 

Não, os cirurgiões são preparados para manter o corpo apresentável para qualquer processo mortuário, além disso, depois que o corpo é preparado por um especialista, o espaço abdominal é preenchido, a pele é devidamente selada e as partes da pele que foram retiradas são cobertas por roupas, permitindo quaisquer rituais que a família desejar.8

4- Quem não pode doar órgãos no Brasil?

Pessoas com doenças infecciosas incuráveis, com câncer generalizado ou com doenças que pela sua evolução tenham comprometido o estado dos órgãos, como Hepatite B, que pode comprometer o estado do fígado. No caso de uma pessoa ser admitida sem identidade ou ser um jovem de menos de 18 anos desacompanhado do seu responsável, também não é possível doar os órgãos.¹,²

5- Resumidamente, como funciona o processo completo da doação até o órgão chegar no doador? É um processo de 6 etapas (Figura 3) que é feita em uma questão de horas para evitar que os órgãos sejam perdidos.

Figura 3: Detalhamento do passo a passo da doação de órgãos.6

Se você quer ser doador de órgãos, avise sua família e amigos!! 

Assim seu desejo será atendido e você salvará a vida de outras pessoas!

Se deseja ser doador de medula óssea agora, cadastre-se no hemocentro mais próximo. Acesse o site do Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea): http://redome.inca.gov.br

-Felipe Heck, Graduando em Farmácia

Referências 

[1] Ministério da Saúde. (2019) Doação de Órgãos: transplantes, lista de espera e como ser doador. https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/doacao-de-orgaos/ Acesso: 20/07/2021

[2] Ministério de Saúde. (2020) Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos 2020. https://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/doeorgaos/ Acesso: 20/07/2021 

[3] Steven, M., & Pace, N. (2003). Non-heart-beating organ donation. European Journal of Anaesthesiology, 20(11), 855-858. doi:10.1017/S0265021503001388 

[4] Healey, A., & Singh, J. (2019). Organ donation – emergency medicine’s call to action. CJEM, 21(5), 569-571. doi:10.1017/cem.2019.404

[5] Bertarello, M. (2010). A judicialização da saúde: uma análise sistêmica da definição do receptor de órgãos na lista única de espera para transplante.

[6] Morais, T. R., & Morais, M. R. (2012). Doação de órgãos: é preciso educar para avançar. Saúde em Debate, 36, 633-639.

[7] Rezende, L. B. O., Veloso, C., Pereira, J. R., & de Oliveira Rezende, L. (2015). Doação de órgãos no Brasil: uma análise das campanhas governamentais sob a perspectiva do marketing social. Revista Brasileira de Marketing, 14(3), 362-376.

[8] Pessalacia, J. D. R., Cortes, V. F., & Ottoni, A. (2011). Bioética e doação de órgãos no Brasil: aspectos éticos na abordagem à família do potencial doador. Revista Bioética, 19(3), 671-682.

INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (ISTS)

Introdução

As infecções sexualmente transmissíveis (IST) são infecções que podem ocorrer principalmente por relações sexuais, por anos elas foram chamadas de doenças sexualmente transmissíveis, mas a mudança foi feita para destacar a possibilidade de transmissão depois da infecção, mesmo sem sintomas. [1]

Apesar de todas as ISTs terem um dos métodos de infecção em comum, elas possuem diversas diferenças, principalmente nas formas de infecção e nos seus tratamentos (Figura 1)


Figura 1: Símbolo da conscientização do combate das ISTs. Fonte: https://ecodiagnostica.com.br/sem-categoria/infeccoes-sexualmente-transmissiveis-ist-estao-em-alta-no-brasil/. Acesso: 14/05/2021

Principais ISTs

  • Clamídia 

A clamídia é resultado de uma infecção bacteriana causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, ela pode ser contraída por qualquer relação sexual, mas também pode ser transmitida de mãe para filho pelo parto. A sua identificação é difícil porque a maior parte das pessoas não manifestam sintomas nas primeiras semanas ou não manifestam nenhum sintoma. [2]

Os sinais e sintomas da clamídia são principalmente, ardor ao urinar, secreção e irritação genital anormal, dor durante a relação sexual, dores abdominais, infertilidade e inchaço dos testículos. [2] [4]. Caso a infecção tenha sido feita pela via oral, é possível que a infecção evolua para uma faringite. [4]. Porém, a principal complicação causada pela infecção por clamídia é durante a formação do embrião na gravidez, em alguns casos a clamídia causa uma gravidez ectópica, em que o embrião se forma fora do útero, normalmente nas trompas de Falópio. [2] 

O principal tratamento para clamídia é administrar para o paciente Azitromicina, Doxiciclina, Eritromicina, Tetraciclina ou Ofloxacina, antibióticos que podem erradicar a bactéria que causa a clamídia. [2]

  • Gonorréia 

A gonorréia é resultado de uma infecção bacteriana causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. Assim como a clamídia, a gonorréia pode ser contraída por qualquer relação sexual, pode ser transmitida de mãe para filho no parto e também tem casos em que nenhum sintoma é manifestado, o que dificulta a identificação da infecção. [2]

Os sinais e sintomas da gonorréia são principalmente, ardor ao urinar, secreção e irritação genital anormal, dor durante a relação sexual e hemorragia vaginal entre períodos menstruais. [2]. As infecções pela genitália, tem a possibilidade de que a condição evolua para uma doença inflamatória pélvica ou uma inflamação do epidídimo. [2]

Em casos de infecções mais graves, a gonorréia pode espalhar pela corrente sanguínea para articulações causando artrite séptica e, caso ela chegue no coração, uma inflamação nas válvulas cardíacas pode causar endocardite. [2]

Na transmissão entre mãe e filho durante o parto, a infecção pode causar conjuntivite neonatal, que pode levar à cegueira do feto sem tratamento. [3]

O principal tratamento para gonorreia é administrar para o paciente Ciprofloxacina, Ceftriaxona, Cefixima, Espectinomicina ou Ofloxacina, antibióticos que podem erradicar a bactéria que causa a gonorreia. [6]

  • Sífilis

A sífilis é resultado de uma infecção bacteriana causada pela bactéria Treponema pallidum. Assim como a clamídia, a sífilis pode ser contraída por qualquer relação sexual, ela também pode ser transmitida de mãe para filho pelo parto, mas diferentemente da clamídia, a infecção também pode começar na pele. [5]

Depois da infecção pela sífilis ela pode se manifestar em 4 estágios, cada um deles possui sintomas diferentes e que evoluem em gravidade com avanço dos estágios. [4] [5]. O estágio primário começa entre 10 e 90 dias após o primeiro contágio sintoma mais comum nesse estágio é a presença de uma úlcera no local de infecção, essa úlcera é indolor e firme, logo, muita das vezes não é percebida pelo infectado. [5]. O estágio secundário tem como o sintoma mais comum a manifestação de uma erupções cutâneas na palma das mãos e dos pés, as úlceras presentes no primeiro estágio normalmente aparecem em maior número nesse estágio. [5]. O estágio latente é o mais diferente, em alguns casos ele não é manifestado, mas caso o paciente esteja no estágio latente ele não apresenta nenhum sintoma, ele pode durar anos ou décadas, mas apesar de não apresentar nenhum sintoma, a infecção continua no corpo. [5]. No estágio terciário as úlceras voltam a aparecer pelo corpo e a expansão da infecção pelo corpo pode atingir o cérebro, os olhos, o coração, os vasos sanguíneos, o fígado, os ossos e as articulações. A infecção nos órgãos pode causar lesões neurológicas, cardiovasculares, na pele, nos ossos e cegueira, fora que esse é o único estágio que pode levar à morte caso ela não seja tratada. [5]

O principal tratamento para sífilis é administrar para o paciente Penicilina G Benzatina, Doxiciclina ou, em casos de alergia à penicilina, Eritromicina, antibióticos que podem erradicar a bactéria que causa a sífilis. [6]

  • Candidíase 

A candidíase é uma infecção fúngica que pode ser causada por qualquer fungo do gênero Candida e pode ser pela via oral, vaginal e anal, cada tipo têm alguns sintomas distintos já que a diferença na área de infecção. [6] [8]

Os sinais e sintomas da candidíase oral são principalmente, uma camada esbranquiçada na boca e língua, aftas na língua e bochecha, sensação de secura na boca, inchaço na garganta e dor ou ardência nas áreas de infecção. Enquanto que na candidíase vaginal são, coceira, corrimento branco e espesso, ardência nas áreas de infecção e inchaço nos grandes lábios. E na candidíase anal apresentam-se coceira e ardência nas áreas de infecção. [6] [8]

O tratamento da candidíase, assim como os seus sintomas, depende de qual tipo de infecção deve ser tratado. Na Candidíase oral o tratamento deve ser feito por um dentista usando cremes para erradicar os fungos nas áreas afetadas. Na Candidíase vaginal o tratamento pode ser feito em casa com cremes farmacológicos, os cremes mais usados no brasil são Miconazol, Clotrimazol e Tioconazol, mas também existem tratamentos medicamentosos com Nistatina, Fluconazol, Itraconazol e Cetoconazol. 

Na Candidíase anal o tratamento é muito similar ao tratamento da variante vaginal, pode ser feito em casa com cremes farmacológicos, os cremes mais usados no brasil são Miconazol e Tioconazol, mas também existem tratamentos medicamentosos com Nistatina e Fluconazol.  [6] [7] [8]

  • Hepatite B

A Hepatite B é uma doença que afeta o fígado e é resultado de uma infecção viral causado pelo Vírus da Hepatite B (VHB), a infecção pode ser por contato a sangue, saliva, sêmen, secreções vaginais, pelo parto ou leite materno de uma pessoa contaminada, facilitando muito a sua transmissão. A Hepatite B também pode demorar a apresentar sintomas, eles normalmente se manifestam de 30 a 180 dias depois da infecção inicial, porém mesmo sem sintomas, a Hepatite B ainda causa danos ao fígado. [9]

A hepatite B pode ter dois tipos de infecção, na Hepatite B aguda os sintomas são manifestados em poucas semanas, mas depois de um tempo o paciente se recupera gradualmente, já na Hepatite B crônica os sintomas ficam mais tempo sem se manifestar e ela pode durar até a morte do paciente. [9]

Os sinais e sintomas da hepatite b são principalmente, falta de apetite, náusea, vômito, dores no corpo, febre, urina mais escura, peles e olhos mais amarelados (icterícia) [9]

O melhor tratamento é pelo uso de antivirais, mas esse tratamento apenas retarda o progresso da doença, ela ainda persiste no paciente. [9]. A melhor medida seria evitar a Hepatite B, já que ela possui vacinas que podem prevenir o contágio inteiramente. [9]

  • Hepatite C

A Hepatite C é uma doença que afeta principalmente o fígado e é resultado de uma infecção viral causado pelo Vírus da Hepatite C (VHC), a infecção pode ser por contato a sangue, pelo parto ou leite materno de uma pessoa contaminada, facilitando muito a sua transmissão. [10]

A infecção do virus da Hepatite C por relação sexual ainda é muito debatido, não se sabe exatamente ao certo o indice de transmição por relação sexual, acredita-se que a secreção que pode ser mais transmissível seria a mucosa anogenital, aumentando muito a chance de infecção por sexo anal. [11]

A Hepatite C também pode demorar a apresentar sintomas, eles normalmente se manifestam em 75% a 85% dos casos depois da infecção inicial, porém mesmo sem sintomas, a Hepatite C ainda causa danos ao fígado. [10] 

Assim como a Hepatite B, a Hepatite C possui dois tipos, a aguda e a crônica, a principal diferença é que, na infecção aguda, os sintomas são apresentados mais rapidamente, mas o paciente pode se recuperar sem nenhum tratamento. Enquanto que a infecção aguda dura anos e demora a manifestar sintomas, mesmo que ela esteja continuamente atacando o fígado durante a sua progressão. [10]

Os sinais e sintomas da hepatite c são principalmente, fadiga, falta de apetite, náusea, vômito, dores no corpo, febre, perda de peso, urina mais escura, peles e olhos mais amarelados (icterícia) [10]

A Hepatite C não possui vacina, ela apenas possui tratamentos medicamentosos antivirais como: o Ledipasvir, Sofosbuvir, Ombitasvir, Paritaprevir, Ritonavir, Dasabuvir, Velpatasvir e Simeprevir. [12]

A Figura 2 mostra os principais tipos de ISTs, seus agentes infecciosos, formas de contágio e tratamentos. 

Figura 2: Principais diferenças entre as ISTs apresentadas. Fonte: Ministério da Saúde. (2006) Coordenação Nacional de DST e Aids. Secretaria de Vigilância em Saúde. DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (DST). MANUAL DE BOLSO.

Prevenção

A principal prevenção para todas as ISTs é o uso de camisinha, sendo ela a camisinha peniana (também conhecido como preservativo masculino) ou o preservativo interno (também conhecido como camisinha vaginal ou preservativo feminino). Para o uso adequado de uma camisinha (Figura 3) é importante que seja usada apenas uma por relação, o uso de duas ou mais camadas pode gerar fricção entre as camadas de látex, que pode causar uma ruptura nas camisinhas, elas nunca devem ser lavadas ou reutilizadas.

Figura 3: Informações sobre como manusear os preservativos. Fonte: Preservativo. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Infecções Sexualmente Transmissíveis. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/prevencao-combinada/preservativo Acesso: 14/05/2021

Vacinação

Algumas ISTs possuem vacinas para contribuir para a prevenção como HPV e Hepatite B, mas mesmo com a vacinação o uso de preservativos é recomendado sempre. 

-Felipe Heck, Graduando em farmácia

Referências

[1] Ministério da Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Infecções Sexualmente Transmissíveis. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist#:~:text=A%20terminologia%20Infec%C3%A7%C3%B5es%20Sexualmente%20Transmiss%C3%ADveis,mesmo%20sem%20sinais%20e%20sintomas. Acesso: 05/05/2021

[2] Ministério da Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Gonorréia e infecção por clamídia. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist/gonorreia-e-infeccao-por-clamidia  Acesso: 06/05/2021

[3] Jalil, E. M., Pinto, V. M., Benzaken, A. S., Ribeiro, D., Oliveira, E. C. D., Garcia, E. G., … & Barbosa, M. J. (2008). Prevalência da infecção por clamídia e gonococo em gestantes de seis cidades brasileiras. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 30(12), 614-619.  

[4] Bastos, F. I., Cunha, C. B., & Hacker, M. A. (2008). Sinais e sintomas associados às doenças sexualmente transmissíveis no Brasil, 2005. Revista de Saúde Pública, 42, 98-108.

[5] Ministério da Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Sífilis. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist/sifilis Acesso: 06/05/2021

[6] Ministério da Saúde. (2006) Coordenação Nacional de DST e Aids. Secretaria de Vigilância em Saúde. DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (DST). MANUAL DE BOLSO.

[7] Sena, M. F. D., Gondim, L. A. M., Souza, G. C. D. A., Ferreira, M. Â. F., & Lima, K. C. (2009). Tratamento de candidíase oral em pacientes com câncer de cabeça e pescoço: uma revisão sistemática. Rev. AMRIGS, 241-245.

[8] Shiozawa, P., Cechi, D., Figueiredo, M. A. P., Sekiguchi, L. T., Bagnoli, F., & Lima, S. M. R. R. (2018). Tratamento da candidíase vaginal recorrente: revisão atualizada. Arquivos Médicos dos Hospitais e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, 52(2), 48-50.

[9] Ministério da Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Hepatite B. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/hv/o-que-sao-hepatites/hepatite-b  Acesso: 10/05/2021

[10] Centers for Disease Control. (2016) Hepatitis C FAQs for Health Professionals.  Acesso: 10/05/2021

[11] Tohme RA, Holmberg SD (2010). Is sexual contact a major mode of hepatitis C virus transmission?. Hepatology. 52 (4): 1497–505. PMID 20635398. doi:10.1002/hep.23808

[12] Ministério da Saúde. (2018) Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Ministério da Saúde atualiza PCDT de hepatite C. Modificado em 11/03/2019 http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/ministerio-da-saude-atualiza-pcdt-de-hepatite-cAcesso: 13/05/2021

[13] Ministério da Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/prevencao-combinada/preservativo Acesso: 13/05/2021

OSTEOPOROSE

CONCEITO

A osteoporose é uma doença que aumenta a fragilidade dos ossos, e os indivíduos acometidos pela doença perdem gradualmente a massa óssea [1]. É caracterizada pela redução da massa óssea e deterioração da arquitetura dos ossos [4]. Dessa forma, os ossos enfraquecem e ficam frágeis, e com o risco fraturas (Figura 1) [1, 2]. A doença é assintomática até que ocorra uma fratura, que a partir desse momento já é considerado um caso grave [1, 3].

O ser humano tem seus ossos em desenvolvimento desde seu nascimento até alguns anos depois do seu crescimento completo. Quando chega no pico de massa óssea a tendência é ocorrer uma perda de matriz óssea. Sendo esse pico diferente dependendo da pessoa, portanto alguns perdem mais que outros, e, portanto, correm um risco maior de ter fratura por osteoporose quando mais velho. Sendo a fisiopatologia da osteoporose caraterizada pela baixa atividade osteoclástica, seguida da diminuição do índice de deposição óssea. Normalmente acomete ossos do tipo trabeculado, que são mais porosos, e são encontrados em áreas como vértebras, pélvis, extremidades de ossos longos, entre outros [7].

Figura 1: Osso Normal versus Osso Osteoporótico. Fonte: International Osgteoporosis Foundation.

CLASSIFICAÇÃO

A osteoporose pode ser primária ou secundária, sendo ainda a primária dividida em tipo I e II. O tipo I ocorre após a menopausa, e geralmente acomete o osso trabecular. O tipo II está relacionado ao envelhecimento, devido à perda da produção de cálcio conforme a idade. Já a secundária, ocorre devido a processos inflamatórios [3].

GRUPOS DE RISCO

Essa doença é a principal causa de morbidade e mortalidade em idosos, sendo o grupo de maior risco [2]. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres após a menopausa têm maiores chances e são as mais atingidas pela doença [3].

SINTOMAS

A osteoporose geralmente não apresenta sintomas, a pessoa só percebe quando ocorre alguma fratura. Normalmente, as pessoas se queixam de dor na região lombar e sofrem espasmos musculares [3]. Quando os sintomas da osteoporose aparecem, é indicação de que a doença já atingiu níveis mais elevados.Além das fraturas, também pode ocorrer dor crônica, depressão, deformidade e aumento do risco de morte [8]. As fraturas mais frequentes ocorrem no punho, fêmur ou quadril, Vértebras (na coluna).

FATORES DE RISCO

Os fatores de risco incluem principalmente as mulheres, de etnia branca ou asiática, com histórico familiar de osteoporose, menopausa precoce, redução da função ovariana, alto consumo de cafeína, uma baixa ingestão de cálcio, sedentarismo, exagero no consumo de álcool e tabagismo [9].

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é feito analisando tanto a presença de fraturas, quanto a medida da densidade mineral óssea (DMO). Para ser classificado como osteoporose, a DMO tem que estar igual ou abaixo de 2,5 desvios padrão do pico de massa óssea encontrada no adulto jovem [8].

É indicado fazer a medida da densidade mineral óssea (DMO), caso a pessoa se enquadre nos seguintes casos:

  • Mulheres, a partir dos 65 anos, e homens a partir dos 70 anos.
  • Mulheres após a menopausa, e homens a partir dos 50 anos, que apresentem fatores de risco para fratura.
  • Mulheres na perimenopausa com fatores de risco para fratura.
  • Adultos que sofrem com baixa massa óssea ou perda óssea, seja devido ao uso de glicocorticóides, por artrite reumatóide ou devido a outro fator.

O Fracture Risk Assessment Tool (FRAX) foi desenvolvido pela OMS com o objetivo de calcular a probabilidade de ocorrer fraturas nos próximos 10 anos com base em diversos fatores de risco, como: idade, sexo, altura, peso, histórico de fratura, uso de glicocorticoides, entre outros [8].

TRATAMENTO

É indicado para indivíduos que tem chances de desenvolver osteoporose, que já apresentem baixa densidade mineral óssea ou fraturas, para reduzir o risco de fraturas [8].

A melhor forma de tratar a osteoporose é se prevenindo, e a prevenção deve ser realizada principalmente em crianças e adolescentes, e também em adultos jovens que estão em fase de formação de massa óssea. Deve haver uma boa nutrição, prática de exercícios físicos e um consumo adequado de cálcio e vitamina D [1].

Além disso, o tratamento deve ser feito em indivíduos que já possuam a doença, com o objetivo de evitar que futuras fraturas ocorram. Pode ser dividido em tratamento medicamentoso e não medicamentoso.

  • TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO

Consiste em praticar exercícios físicos, a força do músculo sobre os ossos acaba aumentando a densidade mineral óssea e evita com que ocorra diminuição da força muscular e aumente a resistência, com o objetivo de diminuir as chances de ocorrer quedas. Exemplos de exercícios para fortalecimento são: caminhada, dança, subida de escadas, entre outros. Sempre levando em conta que um profissional deve ser consultado. Tabagismo e álcool também devem ser evitados.

  • TRATAMENTO MEDICAMENTOSO  

O cálcio e a vitamina D são os componentes mais importantes presentes nos ossos, devido a isso a suplementação de ambos é muito importante para a prevenção de faturas, recomendando-se consumir 1200-1500 mg de cálcio por dia [8]. O cálcio e a Vitamina D atuam em conjunto, um dependendo do outro, pois a Vitamina D é importante para absorção do cálcio e este auxilia na manutenção e formação dos ossos, além de atuar nas batidas do coração e nos nervos [10]. A vitamina D além de influenciar nos ossos, também possui influência nos músculos, devendo ser consumido cerca de 800 a 1000 UI por dia [8]. A vitamina D pode ser absorvida pelo sol antes das 10 h ou após as 16 h e também através de alimentos, como: cereais, ovos, peixe, fígado, ou através de medicamentos contendo Vitamina D [8].

MEDICAMENTOS PARA TRATAR A OSTEOPOROSE

Tem-se os bisfosfonatos, que são compostos orgânicos sintéticos análogos do pirofosfato, sendo dominados como agentes antirreabsortivos por inibirem a reabsorção óssea [6], e eficazes contra fraturas, diminuindo a sua ocorrência nos primeiros meses do tratamento. Esses medicamentos são os mais indicados para tratar a osteoporose em muitos países, e considerados a primeira escolha [4, 5]. Entre eles, temos ácido zoledrônico, risedronato ibandronato e zoledrônico (Figura 2). O alendronato foi o primeiro bisfosfonato aprovado, e seu tratamento é realizado por via oral, uma vez ao dia. Já os outros tem intervalos mais variados, como o risedronato que também é uma medicação oral, porém que pode ser administrada diariamente, semanalmente, ou mensalmente, em doses variadas dependendo da prescrição médica. O ácido zoledrônico é uma medicação mais nova, e diferente dos outros, é administrado uma vez ao ano por via endovenosa [4].

Figura 2: Bisfosfonatos usados no tratamento da osteoporose.

Estudos mostraram que os bisfosfonatos podem causar hipocalcemia, por isso recomenda-se a sua administração junto com a ingestão de cálcio [4].

O tratamento de segunda escolha inclui: o raloxifeno, estrógenos conjugados ou calcitona [5]. O raloxifeno é utilizado para tratamento de mulheres com osteoporose pós menopausa, e na prevenção de fraturas vertebrais, porém não de quadril [5]. Os estrógenos conjugados são uma alternativa de tratamento para pacientes que apresentam sintomas vasomotores associados a doença, e útil para reduzir a ocorrência de fraturas de quadril, vertebrais e não vertebrais [5]. Pode ser administrados por via oral, percutânea e transdérmica [6]. A calcitonina é a forma endógena do hormônio no receptor de calcitonina, diminui a atividade dos osteoclastos e inibe a reabsorção óssea, podendo ser administrada por via intramuscular, subcutânea ou intranasal. Ela aumenta a densidade mineral óssea (DMO) reduzindo as chances de ocorrer fraturas vertebrais. É uma alternativa para pacientes que não se adequaram aos bisfosfonatos, estrógenos conjugados e raloxifeno [4, 5, 6].

A teriparatida estimula a formação óssea, aumentando a força óssea devido ao tecido novo, aumentando a formação de osteoblastos e diminuindo a sua apoptose [6]. É utilizada no máximo por 18 meses, pela falta de segurança do medicamento a longo prazo e por ser um medicamento caro utilizada principalmente em casos graves [5, 6].

Novos agentes estão em estudo clínico e tem possibilidade de chegar ao mercado, como os inibidores da catepsina K e os da Scr quinase, e outros ainda se encontram em desenvolvimento farmacológico e podem emergir para estudos clínicos futuramente [4].

REFERÊNCIAS

  1. Guarniero, Roberto; Oliveira, Lindomar G. OSTEOPOROSE: ATUALIZAÇÃO NO DIAGNÓSTICO E PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA O TRATAMENTO. Rev Bras Ortop. 2004;39(9):
  1. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. OSTEOPOROSE. Portaria SAS/MS nº 451, 2014.
  1. Gali, Julio Cesar. Osteoporose. ACTA ORTOP BRAS 9(2) – ABR/JUN, 2001
  1. Khajuria, Deepak K.; Razdan, Rema; Mahapatra, Roy. Medicamentos para o tratamento da osteoporose: revisão. Rev. Bras. Reumatol. vol.51 no.4 São Paulo July/Aug. 2011.
  1. Magalhães J., Helvécio M. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 224, DE 26 DE MARÇO DE 2014
  1. Mata, Priscila R.; Martins, Paulo A.; Brito, Leonardo G.; Ramos, Monique M. P.; Santos J., Manoelito C. Tratamento farmacológico para a osteoporose. Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), BA, Brasil.
  1. Lautert, Liana; Almeida, Miriam A.; Araújo, Valéria G.; Francisco, Carmem M. C. OSTEOPOROSE: A EPIDEMIA SILENCIOSA QUE DEVE SE TORNAR PÚBLICA. R. bras. Enferm. Brasília, v. 48, n. 2, p. 161-167, abr./jun. 1995.
  1. Buksman, Salo; Ferreira, Maria A. P.; Krug, Bárbara C.; Gonçalves, Candice B. T.; Amaral, Karine M.; Xavier, Luciana C.; Ronsoni, R. M.; Schneiders, Roberto E. Osteoporose. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas, 2014.
  1. Faisal-Cury, Alexandre; Zacchello, Kátia P. Osteoporose: prevalência e fatores de risco em mulheres de clínica privada maiores de 49 anos de idade. Acta ortop. bras. vol.15 no.3, 2007.
  1. Fernandes, César E.; Menezes F., Hamilton; Machado, Luiza; Castro, Marise L. SAÚDE DOS OSSOS Saúde Óssea da Infância à Terceira Idade. Saúde Brasil, 2012.
  1. Silva, Patrícia C. G. F. OSTEOCLASTO: ASPECTOS MORFOFUNCIONAIS E ALVOS TERAPÊUTICOS. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, 2013.

Por Letícia Dayane, Graduanda em Farmácia pela UFRJ.

Fitoterápicos

As plantas têm sido utilizadas de forma terapêutica por séculos, antigas civilizações viam a cura por meio de plantas como algo sobrenatural. Em 1873, foi encontrado o Papiro Ebers, o mais antigo tratado de medicina egípcio – datado de 1600 a.C., comprovando o uso de plantas para fins terapêuticos. Hipócrates (460-361 a.C.), considerado o pai da medicina, utilizava drogas de origem vegetal em seus pacientes e deixou uma obra – Corpus Hippocraticum, que é considerada a mais clara e completa da Antiguidade no que se refere à utilização de plantas medicinais [5].

Atualmente, o campo da farmacognosia (termo criado no séc. 18, ” pharmakon “= drogas e” gnosis ” = conhecimento)atua intensamente para descrever os benefícios de variadas plantas medicinais [1].

O que é esse campo?

É uma ciência multidisciplinar que atua na identificação e extração de compostos originários de plantas. Consiste no estudo de suas propriedades físico-químicas, biológicas e fármaco-toxicológicas [1].

Conceitos

O termo fitoterapia deriva do grego phyton que significa “vegetal” e de therapeia, “tratamento” [4], e promove a geração de fitoterápicos extraídos de plantas medicinais ou derivados – exceto substâncias isoladas. Seus princípios ativos são utilizados com finalidade profilática, curativa ou paliativa [3], porém, apresentam efeitos adversos [1]. Quando há além de vegetais, substâncias de origem vegetal por exemplo, já é classificado como homeopáticos (assunto para outro artigo).

A fitoterapia segue o princípio dos contrários (alopatia), caso alguém tenha febre, utiliza-se um antitérmico [7].Os fitoterápicos são eficazes, no âmbito da atenção básica e promove redução dos custos, por esses motivos, oferece muitas vantagens e, o Brasil, é o país de maior biodiversidade do Planeta, uma das maiores potências vegetais do mundo [2]. Além disso, o investimento no estudo de plantas para produção de fitos é promissor [2], apesar do processo de pesquisa e desenvolvimento de um fitoterápico ter um custo um tanto elevado [7].

Segundo a OMS, cerca de 85% da população mundial faz uso de fitoterápicos com objetivos terapêuticos, devido ao baixo custo e fácil acesso [1]. No Brasil, temos o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, implantado pelo Ministério da Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, 12 fármacos fitoterápicos estão disponíveis no SUS [6].

Formas de atuação

A ação terapêutica das plantas é proveniente de seus compostos químicos (princípios ativos) e suas formas de utilização dependem da parte que será utilizada dessa planta [5] (exemplos abaixo),do efeito que se espera e da doença a ser tratada [5].

Partes utilizadas como:

Raiz, casca (camada superficial do tronco), talo, folhas, flores como exemplo a camomila e/ou frutos [6].

Mediante a esses fatores, as plantas medicinais podem ser utilizadas sob a forma de: infusão, decocção, maceração, tintura, extratos fluido, mole ou seco, pomadas, cremes, xaropes, inalação, cataplasma, compressa, gargarejo ou bochecho [5]. Ou seja, não há fitoterápicos apenas na forma de comprimidos.

Desenvolvimento dos Fitoterápicos

Figura 2: Etapas de desenvolvimento de um fitoterápico (Alves, 2021).
Fonte: https://guiadafarmacia.com.br/especial/plantas-medicinais-ou-fitoterapicos-saiba-diferencia-los/

Nesta figura (2), as etapas são descritas pela farmacêutica com habilitação em indústria, especialista em Gestão Farmacêutica, Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica, doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (área Farmacologia) e professora adjunta da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Dra. Camila de Albuquerque Montenegro.

Etapas detalhadas disponíveis no site da Rev. Guia da Farmácia: https://guiadafarmacia.com.br/especial/plantas-medicinais-ou-fitoterapicos-saiba-diferencia-los/

Exemplos

Tabela 1: Exemplos de medicamentos e produtos fitoterápicos.
Fonte:http://www.crfsp.org.br/images/cartilhas/PlantasMedicinais.pdf

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) lançou o Memento Fitoterápico, documento oficial que reúne informações científicas de 28 plantas medicinais. As 28 espécies estão descritas no site: https://saude.abril.com.br/medicina/plantas-medicinas-poderes-as-contraindicacoes/.

Dentre as 28, separamos para este artigo,  3 espécies um tanto conhecidas:

  • Valeriana (Valeriana officinalis)
Figura 3:Valeriana officinalis.
Fonte3:https://www.tuasaude.com/valeriana/
Figura 4:Valeriana officinalis.
Fonte4:https://br.pinterest.com/pin/484418503652228590/

Age aliviando o estresse, pois seu princípio ativo (valepotriatos) tem ação no sistema nervoso central [6], favorecendo o aumento da síntese de GABA (neurotransmissor) na lacuna sináptica, inibindo sua destruição [1], por isso exige prescrição médica [6].Os compostos são extraídos das raízes fortes, a parte da planta que absorve os nutrientes da terra [6], ou do caule e rizoma. É nativa da Europa e Norte da Ásia [1].

 – Forma de uso: cápsula, comprimido, extrato ou tintura.

 – Indicação: Sedativo moderado com efeito hipnótico, prescrito para tratamento de distúrbios do sono e ansiedade.

Contraindicação: Alérgicos ou sensíveis a algum dos componentes da fórmula, crianças menores de 12 anos, grávidas, quem está amamentando [6], alcoólicos ou usuários de outros sedativos, e indivíduos com cefaléia, tontura, coceira e distúrbios gastrointestinais [1].

 –  Efeitos colaterais:Pode ocasionar depressão respiratória.

  • Castanha da Índia (Aesculus hippocastanum)
Figura 5:Aesculus hippocastanum. Fonte:https://en.wikipedia.org/wiki/Aesculus_hippocastanum

O princípio ativo utilizado (escina) é retirado das sementes e tem como função fortalecer os vasos sanguíneos [6]. A escina é composta de uma mistura de glicosídeos triterpênicos acilados e tem atividade anti-inflamatória, antiedematosa (inibe a inflamação e edema), além de atuar na proteção de vasos e ter atividade venotônica [11].

A escina age neutralizando a redução de ATP e com um aumento na atividade da fosfolipase A2, responsável pela liberação de precursores de mediadores inflamatórios. Por isso, é um fitoterápico bastante utilizado contra varizes [11], sendo isento de prescrição médica [6].

 – Forma de uso: Cápsula, comprimido e gel.

 – Indicação: Cabelos frágeis e insuficiência venosa proveniente de varizes ou hemorróidas.

 – Contraindicação: Crianças, alérgicos ou sensíveis a algum composto dessa planta e para indivíduos com insuficiência renal ou hepática [6].

  • Cáscara Sagrada (Rhamnus purshiana) – Disponível no SUS
Figura 6: Rhamnus purshiana. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1scara_sagrada

Essa planta tem como função auxiliar os intestinos, é uma planta norte-americana, porém é mito que ela ajuda a emagrecer!! É um Fitoterápico isento de prescrição médica. Seus compostos químicos são extraídos das cascas grossas (camada superficial do tronco) [6].

Tem efeito laxativo, os glicosídeos presentes no extrato desta planta permitem ser hidrolisados através das bactérias intestinais, soltando constituintes como crisaloína, barbaloína e outros, que provocam a estimulação e elevação do peristaltismo no cólon, colaborando para a expulsão do bolo fecal [12].

 – Forma de uso: Cápsula, comprimido, tintura, extrato e fluido.

 – Indicação: Constipação intestinal.

 – Contraindicação: Crianças, grávidas, mulheres amamentando, pessoas com cólicas, hemorróidas, náuseas, doenças de Crohn, desidratação, constipação crônica, insuficiência renal, hepática e cardíaca [6].

Efeitos adversos dos Fitoterápicos

Plantas também apresentam toxicidade, o conceito “natural” não exime o fato de até mesmo medicamentos fitoterápicos terem efeitos adversos, por isso, é importante buscar orientação médica e não ditados populares. Somente sob orientação médica e farmacêutica é possível quebrar mitos, saber as doses corretas, as partes da planta que podem ser utilizadas para fazer uma infusão, por exemplo, e ter atenção a grupos de riscos (idosos, crianças, gestantes, dentre outros).

A camomila, por exemplo, é muito popular e bastante utilizada para acalmar – sedativo leve, mas que não pode ser utilizada por gestantes [6]. E há plantas super tóxicas como “comigo ninguém pode”, que pode até matar. A cocaína é outro exemplo, sendo também produto natural, mas altamente prejudicial a saúde, por isso, é importante não se automedicar. Fazer uso de fitoterápicos de forma clandestina não é indicado [8].

O uso de plantas medicinais e/ou fitoterápicos durante a gravidez é perigoso pois, pode causar estímulo da contração uterina e, consequente aborto ou parto prematuro, e até malformação, dentre outros fatores. Por isso, é importante buscar orientação médica [10].

Curiosidades

Pode-se tomar um fitoterápico sem receita médica, só lendo a bula?

Sim, desde que a espécie vegetal que componha o produto conste na lista das isentas de prescrição [Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 10, de 9 de março de 2010]. Porém, mesmo assim é recomendado buscar orientação médica, para que o objetivo terapêutico seja alcançado [7].

Quais as diferenças entre a fitoterapia e a homeopatia?

A fitoterapia só utiliza plantas e segue os princípios dos contrários, (alopatia), a homeopatia usa também substâncias de origem mineral ou animal. Além disso, a homeopatia considera o indivíduo como um todo, visando o equilíbrio de energias, por isso, utiliza-se medicamentos com princípios ativos diluídos e dinamizados, com a ideia de que semelhante cura semelhante, ou seja, se está com febre utiliza-se medicamentos com uma substância que ocasione febre [7].

Plantas medicinais são fitoterápicos?

Não. Os compostos das plantas medicinais podem se obter fitoterápicos [1], mas plantas medicinais são vegetais que podem ser utilizados com outras finalidades, inclusive terapêuticas.

Mas afinal, se também apresenta efeitos colaterais, qual a vantagem?

  • Fitoterápicos tem ação em áreas onde medicamentos convencionais atuam mal;
  • Proporciona menor risco (menos efeitos colaterais);
  • Menor custo de produção se comparado a medicamentos convencionais;
  • Menor impacto ambiental;
  • Melhor aceitação pelos pacientes;
  • Maior aplicação em problemas comuns;
  • Menor incidência de intolerância e dependência;
  • Atuação em diferentes especialidades médicas [9].

Por Talita Alves, Graduanda em Farmácia pela UFRJ.

Bibliografia:

  1. Ferreira, T.S.; Moreira, C.Z.; Cária, N. Z.; Victoriano, G.; SILVA Jr, W.F.; Magalhães, J.C. Fitoterapia: Introdução a sua história, uso e aplicação. Rev. Brasileira de Plantas Medicinais. Vol. 16, n. 2 – 2014. Disponível em:https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-05722014000200019&lng=en&tlng=en
  2. Pharmacia Brasileira. Homeopatia e fitoterapia: por que? – n. 81 – 2011. Disponível em: https://cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/131/003_opiniAo_do_presidente.pdf
  3. FIOCRUZ. Fitoterápicos – Disponível em: https://portal.fiocruz.br/fitoterapicos#:~:text=Fitoter%C3%A1picos%20s%C3%A3o%20produtos%20obtidos%20de,finalidade%20profil%C3%A1tica%2C%20curativa%20ou%20paliativa.
  4. TEIXEIRA, João Batista Picinini; BARBOSA, Aretuza Ferreira; GOMES, Christiane Helena Carvalho; EIRAS, Naiara Silva Vilela.  A Fitoterapia no Brasil: da Medicina Popular à regulamentação pelo Ministério da Saúde. Disponível em:  https://www.ufjf.br/proplamed/files/2012/04/A-Fitoterapia-no-Brasil-da-Medicina-Popular-%C3%A0-regulamenta%C3%A7%C3%A3o-pelo-Minist%C3%A9rio-da-Sa%C3%BAde.pdf
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  6. Biernath, André. 28 plantas medicinais: dos poderes às contraindicações. 2019 – Disponível em:https://saude.abril.com.br/medicina/plantas-medicinas-poderes-as-contraindicacoes/.
  7. GUIA DA FARMÁCIA. Plantas medicinais ou fitoterápicos: saiba diferenciá-los. 2018. Disponível em: https://guiadafarmacia.com.br/especial/plantas-medicinais-ou-fitoterapicos-saiba-diferencia-los/
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  11. Dudek-Makuch, Marlena; Studzinska-Sroka, Elzbieta. Horse chestnut – efficacy and safety in chronic venous insufficiency: an overview. Revista Brasileira de Farmacognosia 25 (2015) 533–541. Disponível em: https://link.springer.com/content/pdf/10.1016/j.bjp.2015.05.009.pdf
  12. PINHEIRO, Antônia Karmiles; GERON, Vera Lúcia Matias Gomes; JÚNIOR, André Tomaz Terra; NUNES, Jucélia da Silva; BRONDANI, Filomena Maria Minetto. Constipação intestinal: tratamento com fitoterápicos. Rev Cient FAEMA: Revista da Faculdade de Educação e Meio Ambiente – FAEMA, Ariquemes, v. 9, n. ed esp, p. 559-564, maio-jun, 2018. Disponível em: http://repositorio.faema.edu.br/bitstream/123456789/2169/1/Artigo.pdf

Cigarros eletrônicos, eles fazem mal?

Introdução

O cigarro eletrônico moderno (Figura 1) foi criado por Hon Lik, um farmacêutico Chinês em 2003, logo depois de seu pai ter falecido por complicações relacionadas a um câncer de pulmão, que foi resultado de anos de fumo. Como nova alternativa ao cigarro normal, o cigarro eletrônico tem a mesma função do adesivo ou pastilha de nicotina, sendo uma solução transitória para facilitar o tratamento para vício em nicotina [1] .

Figura 1: Pessoa fumando um cigarro eletrônico. Fonte: Rádio Cidade. https://radiocidadeibiruba.com.br/fm/um-dispositivo-eletronico-nunca-fez-tao-mal-a-saude-veja-os-danos-no-organismo-causados-pelos-cigarros-eletronicos/ Acesso 29/03/2021

Assim, ao diminuir a quantidade de nicotina no cigarro eletrônico, o fumante poderia se acostumar gradualmente a viver sem seu consumo. Porém, ao invés de diminuir o consumo de nicotina, o maior efeito que cigarros eletrônicos tiveram foi o de substituir o cigarro normal e virar a principal fonte de nicotina para as novas gerações [2] .Nos últimos anos tem havido uma queda do consumo de cigarros no Brasil e no mundo; só no Brasil o número de fumantes caiu em 35% de 2006 a 2017 [3] mas o número de fumantes de cigarros eletrônicos têm subido de menos de 10 milhões em 2011 até mais de 40 milhões no começo de 2018 no mundo todo [4]. Isto indica que ao invés de ser uma solução para o problema mundial para o vício da nicotina, ele criou apenas uma alternativa que pode ser igualmente nociva.

A lei das consequências involuntárias e suas ligações com os cigarros eletrônicos

A lei das consequências involuntárias é um princípio usado muito na economia, que explica situações em que as soluções para um aparente problema, também criam outro problema similar. Assim, nessas situações o problema antigo foi apenas substituído por um novo que pode ou não ter a mesma magnitude e consequências que o primeiro [5]. 

Pode-se concluir então que, há uma consequência involuntária ao buscar uma alternativa no tratamento do vício em cigarros. No caso da criação dos cigarros eletrônicos, abriu-se um precedente para o vício ser apenas alternado para esse novo meio de obtenção da nicotina.

Como funciona o cigarro eletrônico moderno?

Os cigarros eletrônicos têm vários modelos, mas todos eles têm os mesmos tipos de componentes [6]: 

1- Cartucho de nicotina líquida: Nessa porção é inserido um cartucho que irá conter uma mistura à base d’água que contém nicotina e aromatizadores. Não existe um limite para a porcentagem de nicotina presente em cada cartucho, a recomendação é de 6 à 24 mg, mas podem ser encontrados cartuchos com mais de 100 mg.

2- Aromatizador: Nessa porção o líquido é preparado para se transformar em vapor.

3- Sensor e Microprocessador: Nessa porção o líquido vira o vapor, pronto para ser inalado.

4- Bateria e Lâmpada de Led: Nessa porção fica a bateria recarregável e a lâmpada que indica quando e se o cigarro está em funcionamento.

A Figura 2 ilustra a estrutura do cigarro eletrônico e do cigarro comum:

Figura 2: Demonstração visual das diferenças do cigarro comum e eletrônico. Fonte: G1. https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/05/31/cigarros-eletronico-e-tradicional-tem-em-comum-os-riscos-da-nicotina-entenda-perigos-de-cada-um.ghtml Acesso: 29/03/2021

O que o cigarro eletrônico pode causar?

A nicotina é o principal componente viciante em produtos de tabaco; assim, também existe o risco de dependência de cigarros eletrônicos. As concentrações de nicotina listadas nos rótulos dos cigarros eletrônicos são frequentemente imprecisas. Líquidos e vapores de cigarros eletrônicos também mostraram conter tóxicos, incluindo metais pesados (por exemplo, cromo, chumbo, arsênico), compostos orgânicos voláteis e nitrosaminas específicas do tabaco, embora em concentrações mais baixas do que os cigarros comuns. [7] 

Figura 3: Imagem simbolizando os efeitos semelhantes do cigarro comum e eletrônico. Fonte: Veja Saúde. https://saude.abril.com.br/medicina/cigarro-eletronico-faz-menos-mal-para-a-saude-que-o-comum/ Acesso: 30/03/2021

Quais são os potenciais riscos do uso do cigarro eletrônico?

Os efeitos do cigarro eletrônico ainda estão sendo estudados, principalmente porque eles ainda não existem a tanto tempo, mas sabe-se que ele pode causar [8-9]:

  • Vício em nicotina.
  • Dores abdominais e de cabeça.
  • Visão turva.
  • Irritação e inflamação em todo o trato respiratório.
  • Náusea e vômito.
  • Tosse seca frequente.
  • Insônia.
  • Problemas na fertilidade masculina.
  • Agravamento de casos de asma.
  • Risco de câncer de pulmão.

Contra-indicações: o uso de cigarros eletrônicos é contraindicado para pessoas grávidas, jovens com menos de 25 anos e pessoas que possuam qualquer enfermidade no trato respiratório [6]. 

Covid-19: Durante a pandemia do vírus Sars-cov-2, devido ao fato de ser um vírus respiratório que ataca o pulmão, um dos grupos que mais sofreu com a infecção foram os fumantes. No caso dos usuários de cigarros eletrônicos, eles foram os fumantes mais sensíveis a essa infecção.

Os danos causados pela inalação de vapor para os pulmões criaram uma área que possibilitou a proliferação e agravação do vírus no pulmão [10]. 

Os cigarros eletrônicos auxiliam a parar o hábito de fumar cigarros comuns?

 Pesquisas sobre a efetividade dos cigarros eletrônicos no tratamento do vício em cigarros comuns ainda são pouco precisas, principalmente porque os cigarros eletrônicos não existem a tempo suficiente para realizar uma análise completa [11]. Porém, com os dados disponíveis atualmente, pode-se inferir que o cigarro eletrônico tem substituído o cigarro comum atualmente. No decorrer dos anos houve uma diminuição significativa do consumo de cigarros comuns e aumento paralelo no consumo de cartuchos de cigarros eletrônicos [12]. 

Portanto, é pertinente a discussão se essa substituição é prejudicial ou não para a saúde do fumante, pois o cigarro eletrônico não possui muitos dos compostos carcinogênicos presentes no cigarro comum; possui apenas a nicotina em comum [13]. Por outro lado, a solução presente nos cartuchos de nicotina usados nos cigarros eletrônicos possui na sua maioria compostos usados apenas na indústria alimentícia, não sendo prejudiciais à saúde a curto prazo; entretanto não se conhece seus efeitos a longo prazo [2].

Os cigarros eletrônicos e os adolescentes

A nicotina pode ter um impacto prejudicial no desenvolvimento do cérebro na juventude, e os cigarros eletrônicos podem atuar como uma porta de entrada para o uso do cigarro ou da maconha. Os jovens também são suscetíveis ao vício da nicotina.

O consumo de cigarros eletrônicos entre adolescentes é preocupante, porém, devido a menor quantidade de compostos carcinogênicos que o cigarro comum, ele é promovido como uma versão menos perigosa que o comum [12]. Essa falsa ideia de segurança atingiu principalmente os adolescentes e jovens adultos, abrindo um precedente para aumentar o consumo entre jovens, especialmente o de cartuchos com altas doses de nicotina [14]. 

Embora os cigarros eletrônicos não contenham tabaco cancerígeno, a maioria contém nicotina, o que não só leva ao vício, mas também pode prejudicar o desenvolvimento do cérebro e a função cognitiva na juventude. Estudos recentes também mostraram que adolescentes que usam cigarros eletrônicos têm maior probabilidade de começar a fumar cigarros de tabaco. Portanto, é essencial que os adolescentes conheçam os riscos e preocupações com a saúde que os cigarros eletrônicos podem causar, e implementar medidas para prevenir ou cessar o uso de cigarros eletrônicos.

CONCLUSÃO: 

Os cigarros eletrônicos foram rapidamente promovidos como alternativa ao cigarro convencional, embora seu uso seja altamente controverso. Apesar da crença que se trata de  um produto para diminuir ou parar de fumar, que são seguros e menos viciantes, seu uso é inseguro e perigoso para a saúde humana. O tabagismo eletrônico deveria ser regulamentado da mesma forma que os cigarros tradicionais e ser proibido para crianças e adolescentes.

-Felipe Heck, Graduando em farmácia.

Referências

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[10] Patel, V. N., Rouse, M., Brown, C., & Pandya, S. (2020). Ground Glass Opacities Observed in a 26-Year-Old Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Rule-Out Patient With a History of Vape Use. Cureus, 12(9)

[11] Polosa, R., Caponnetto, P., Cibella, F., & Le-Houezec, J. (2015). Quit and smoking reduction rates in vape shop consumers: a prospective 12-month survey. International journal of environmental research and public health, 12(4), 3428-3438. 

[12] Dobbs, P. D., Hodges, E. J., Dunlap, C. M., & Cheney, M. K. (2020). Addiction vs. dependence: A mixed methods analysis of young adult JUUL users. Addictive behaviors, 107, 106402 

[13] Klein, M. D., Sokol, N. A., & Stroud, L. R. (2019). Electronic Cigarettes: Common Questions and Answers. American family physician, 100(4), 227.

[14] Walley, S. C., Wilson, K. M., Winickoff, J. P., & Groner, J. (2019). A public health crisis: electronic cigarettes, vape, and JUUL. Pediatrics, 143(6).

Psicobiótica: Conexão Intestino-Cérebro

Figura 1: as bactérias e nossa microbiota. Fonte: Dra. Adriana López Luría.

Hipócrates dizia que somos o que são nossos intestinos (Lira, 2013)

Você já parou para pensar por que sente aquele desconforto intestinal quando fica nervoso ou ansioso? O que explica isso é a conexão que existe entre o nosso cérebro e os intestinos. As reações como diarréia e náuseas são mais intensas nos quadros psiquiátricos de ansiedade e depressão. O cérebro influencia nosso estado gastrointestinal, pois nosso aparelho digestivo “absorve” nossas emoções e estado mental [1]. Ou seja, o cérebro envia sinais para o intestino e é por isso que o estresse e outras emoções podem contribuir para sintomas gastrointestinais. Entretanto, os sinais viajam no sentido oposto também: os microrganismos que habitam nosso intestino podem produzir substâncias que afetam nossa saúde mental. Assim, essa via de mão dupla afeta nossa saúde [12].

Figura 2: Conexão cérebro-intestino: consiste em um eixo de comunicação bidirecional, onde a informação pode ser gerada a nível intestinal ou cerebral. Fonte: Instituto de Radiologia Presidente Prudente.

Atualmente, nosso sistema digestivo é conhecido como segundo cérebro. Podemos dizer que temos dois sistemas nervosos. O nosso sistema nervoso central, composto por nosso cérebro e a espinha dorsal e o sistema nervoso entérico, é o sistema nervoso intrínseco de nosso trato gastrointestinal. O cérebro e o intestino formam um eixo de comunicação bidirecional, ou seja, estão conectados através do nervo vago,que vai do tronco cerebral até o abdômen. Desse modo, o nervo vago é a principal rota que as bactérias intestinais usam para transmitir informações para nosso cérebro. E o fator determinante da homeostase (equilíbrio) em nosso cérebro, intestino e organismo em geral é a nossa microbiota intestinal.

Microbiota Intestinal

Foi comprovado que as bactérias intestinais participam da regulação de variados e importantes processos fisiológicos [2]. Suas principais funções são: metabólicas, tróficas e protetoras.

O grau de semelhança do interior dos intestinos de dois indivíduos é de apenas 10% [3]. Porém, no corpo humano em geral, há aproximadamente 43% de células e todo o resto são microrganismos [4]: bactérias, vírus, fungos, arquea (semelhantes a bactérias, diferenciam-se pela genética), entre outros, sendo que nos intestinos está a maior concentração destes microrganismos [4]. A respeito das bactérias, temos dois tipos: as que ajudam a manter a homeostase do nosso organismo e as que causam infecções e doenças, principalmente psicopatologias.

O microbioma intestinal bacteriano é amplamente definido por dois filotipos dominantes, Bacteroidetes e Firmicutes, com os filos de Proteobacteria, Actinobacteria, Fusobacteria e Verrucomicrobia [5]. Mas o fator mais interessante é que nossa microbiota tem influência em moléculas que afetam nosso comportamento social (glicocorticóides, esteróides sexuais, neuropeptídeos e monoaminas) e nas regiões do cérebro relacionadas a sociabilidade do indivíduo como: amígdala, córtex pré-frontal, hipocampo e o hipotálamo [5]. Portanto, já se compreende parte da relação da microbiota intestinal com a depressão.

A microbiota de nosso intestino também é produtora de neurotransmissores, os mensageiros químicos que transportam os sinais entre os neurônios e outras células do corpo [6]. Veja tabela abaixo. Fonte: Lyte, 2011.[7]

Além disso, nosso intestino associado aos tecidos linfóides formam o maior órgão imune do corpo humano, representando mais de 70% do sistema imune total, por isso, o sistema gastrointestinal desempenha um papel central na homeostase do sistema imunológico [8].

Microbiota dos Recém-natos

Resultados de estudos pré-clínicos com ratos, vêm indicando que no caso dos recém natos, pode ocorrer alterações da microbiota por fatores como exposição a antibióticos, falta de aleitamento materno, parto por cesariana, infecção, inflamação (ativação imune materna), exposição ao estresse, separação materna e outras influências ambientais e genéticas [5, 13].

Figura 3. A microbiota ao longo da vida. Fonte: Anselmo Santana, 2021. 

Tais fatores podem levar à diminuição da microbiota, aumentando o risco da criança desenvolver desordens neurodegenerativas e de neurodesenvolvimento, devido às elevadas concentrações de citocinas pró-inflamatórias. Isso pode influenciar a suscetibilidade individual ao desenvolvimento de autismo [5] ou um perfil comportamental com essa característica, por isso o autismo também está sendo associado a perturbações microbianas (ainda em pesquisa) [5].

Microbiota em disbiose

Uma disbiose (desequilíbrio) dessa flora, pode ocorrer por variados motivos como: dieta inadequada, uso de antibióticos, estresse físico ou mental, entre outros, e pode acarretar patobiontes, que são espécies bacterianas que favorecem estados patológicos [13].

Figura 4: Desequilíbrio da microbiota intestinal. Fonte: Nutricionista Cristiane Perroni, 2021.

Quando há uma disbiose, há aumento da permeabilidade intestinal, facilitando a entrada de toxinas, macromoléculas e translocação de bactérias gram-negativas através do revestimento da mucosa para acessar as células imunes e SNE. Como consequência, leva a uma resposta imune caracterizada pelo aumento da produção de mediadores inflamatórios. Os sintomas se refletem de forma gastrointestinal e psíquica, alguns como: constipação, diarréia, alterações do humor, irritabilidade, podendo levar a condições mais graves como: doenças inflamatórias, anorexia, obesidade, entre outros [1].

Portanto, estudos vêm comprovando que manter a saúde de nossa microbiota contribui para a saúde do cérebro, por isso, a ingestão de psicobióticos vem revelando um novo potencial como terapêutica a favor da saúde mental, para remissão de psicopatologias. Assim, uma nova possibilidade surge para o tratamento de transtornos como estresse, ansiedade, depressão e outros, através do consumo de psicobióticos

O que são Psicobióticos?

Os psicobióticos são bactérias vivas (probióticos) os quais após sua ingestão, afetam o sistema nervoso de modo benéfico. São os microrganismos vivos, ou seja, “bactérias do bem” [5]. As bactérias mais utilizadas como probióticos são as dos gêneros Bifidobacterium e Lactobacillus [2] e são as mais prescritas nos casos de estresse e ansiedade. Os probióticos podem ser incluídos em vários produtos alimentares, medicamentos ou suplementos alimentares, mas é importante consultar um especialista. As principais aplicações de culturas probióticas são realizadas em produto lácteos como leites fermentados e iogurtes [14].

Quando ingeridos, os psicobióticos através de suas propriedades, trazem benefícios à saúde, principalmente do cérebro, pois corroboram para um melhor funcionamento do eixo intestino-cérebro levando ao equilíbrio da flora, por meio de interações com bactérias comensais do intestino, de modo a proteger o hospedeiro (o homem) [1]. 

Já os prebióticos, aumentam o crescimento de bactérias intestinais benéficas. São alimentos funcionais que alimentam a flora local, nutrem e apoiam o crescimento desses microorganismos benéficos e consistem em hidratos de carbono (oligossacarídeos e polissacarídeos). São carboidratos complexos, não degradáveis pelas enzimas salivares e intestinais [5]. Uma alimentação adequada pode aumentar a concentração de bactérias boas no intestino. Dentre os prebióticos, destacam-se a oligofrutose, a inulina e os frutooligossacarídeos (FOS), compostos que podem ser encontrados em alimentos apresentados a seguir [14].

Exemplos prebióticos:

  • alcachofra
  • alho
  • aspargo
  • banana
  • barra de cereais
  • beterraba
  • biscoitos com baixo teor de gordura
  • cebola
  • centeio
  • cerveja
  • cevada
  • chicória
  • iogurte
  • kefir
  • maçã
  • mel
  • tomate
  • trigo
  • verduras [14].

Além dos benefícios para o cérebro, os principais benefícios dos prebióticos são:

  • modulação do metabolismo lipídico reduzindo os riscos de aterosclerose e os níveis de triglicérides e de colesterol plasmático;
  • redução dos riscos de osteoporose; 
  • modulação da microflora intestinal;
  • redução do risco de câncer de cólon e de doenças cardiovasculares;
  • prevenção à obesidade e ao Diabetes Mellitus tipo II; 
  • estímulo ao sistema imunológico;
  • alívio à constipação;
  • controle da pressão arterial [14].

No geral, uma alimentação mais rica em prebióticos e probióticos, parece ter um efeito positivo sobre a forma como se pensa, sente e reage ao longo de todo o dia.

Como funcionam os psicobióticos?

Como já dito, as bactérias boas do intestino conseguem enviar mensagens do intestino até ao cérebro através do nervo vago. Assim, os psicobióticos atuam principalmente enviando neurotransmissores importantes como o GABA ou a serotonina, que diminuem os níveis de cortisol (hormônio do estresse), aliviando sintomas temporários de estresse, ansiedade ou depressão.

As pesquisas em psicobiótica são baseadas em modelos de roedores. Mas foi comprovado que os psicobióticos afetam marcadores psicofisiológicos de ansiedade e depressão e promovem efeitos psicológicos emocionais, cognitivos, sistêmicos no eixo HPA (eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal), na resposta ao estresse, na inflamação e neurais em neurotransmissores e proteínas [16]. Porém, os mecanismos de ação ainda não foram completamente elucidados e definidos, portanto, é um assunto pouco compreendido, ainda em pesquisa.

Sabe-se que os metabólitos gerados pelos probióticos tem propriedades neuroativas [6]. Além de atuar contra agentes patogênicos, favorecem a função da barreira intestinal (revertendo o estado de permeabilidade) e a diminuição da resposta inflamatória (pois auxiliam o sistema imunológico), entre outros. Assim, um dos possíveis mecanismos de ação, é a redução de citocinas pró-inflamatórias (IL-6 e TNF-α) [6].

Pesquisas apontam que, em pessoas com estresse crônico, por exemplo, há modificações na microbiota intestinal resultando em aumento da inflamação no corpo, ativação da resposta imune e alteração dos neurotransmissores, que por sua vez mudam as respostas cerebrais como o humor e comportamento. Esse ciclo vicioso pode ser revertido com a ingestão oral de probióticos, os quais diminuem inflamações e assim, menos hormônios relacionados ao estresse aparecem na circulação e com menor ativação de áreas ligadas à ansiedade no cérebro. No caso da depressão, os probióticos parecem ter efeito sobre o sistema nervoso muito semelhantes aos obtidos com antidepressivos [10].

Figura 5: Visão geral da ação psicobiótica.
Fonte: Trends in Neurosciences.

De modo geral, os psicobióticos atuam por diversas maneiras, entre elas a diminuição da inflamação e a produção de neurotransmissores. Observe a Figura 5, onde as setas azuis indicam processos e efeitos psicobióticos em um organismo saudável, enquanto as setas vermelhas indicam processos associados ao intestino com vazamento e inflamação [10].

Nos intestinos, os psicobióticos promovem a liberação de hormônios e neurotransmissores, para entrarem na circulação, tendo como destino, o cérebro, mais precisamente, o sistema nervoso central (SNC). Em um organismo saudável, os psicobióticos podem auxiliar na redução de citocinas pró-inflamatórias, reduzir a ação do cortisol (hormônio induzido pelo estresse), além de atuar para uma maior produção de citocinas anti-inflamatórias, que atuam em conjunto com a barreira hematoencefálica (barreira que protege o SNC contra invasores). Ou seja, os psicobióticos ajudam a manter a homeostase do organismo, o equilíbrio entre saúde do corpo, cérebro e estado de humor, tudo isso sem apresentar efeitos adversos.

O lado direito desta figura (setas vermelhas), demonstra como a falta de psicobióticos pode refletir em uma disfunção da barreira que antes protegeria o SNC. Então uma disfunção elevada causada por ex., pela exposição ao glicocorticóide (cortisol) induzido pelo estresse, pode levar ao humor negativo, falta de disposição e doenças. Essa disfunção permite a migração de bactérias com componentes pró-inflamatórios, desencadeando um aumento de citocinas pró-inflamatórias (círculos vermelhos) e reduzindo a produção de neurotransmissores. Além disso, reduzem a integridade da barreira intestinal e da barreira hematoencefálica, abrindo portas para bactérias, agentes invasores, patogênicos e inflamatórios, causadores de doenças como: [10] infecções intestinais, ansiedade, depressão, Alzheimer, doença bipolar, esquizofrenia, autismo, entre outras [6].

Contudo, a ação psicobiótica restaura a função da barreira intestinal e diminui as concentrações circulantes de glicocorticóides e citocinas pró-inflamatórias. Aumentando as concentrações de citocinas anti-inflamatórias (círculos azuis), melhoram a integridade da barreira hematoencefálica, intestinal e reduzem a inflamação geral [10]. Isto se torna benéfico na redução de emoções negativas nos seres humanos e em nossa saúde em geral. Por isso, os psicobióticos vem revelando potencial como nova terapêutica para doenças psiquiátricas. 

Os medicamentos convencionais como antidepressivos e ansiolíticos apresentam frequentemente efeitos colaterais prejudiciais como alteração da microbiota intestinal, provocando distúrbios gastrointestinais, disfunções sexuais, ganho ou perda de peso, dislipidemia, hipertensão etc. Desse modo, os psicobóticos podem ser capazes de controlar sintomas das doenças que atingem o cérebro sem eventos adversos.

Quais psicobióticos devo tomar?

As melhores dosagens para esses psicobióticos ainda precisam ser determinadas, mas alguns deles, estão comercialmente disponíveis em cápsulas de probióticos. Como o “Probians”, um suplemento alimentar em cápsulas (psicobiótico), formado por cepas de Lactobacillus helveticus R0052 ND e Bifidobacterium longum R0175, que foi lançado recentemente pela APSEN farmacêutica [15].

Para os prebióticos, são recomendadas doses de 4 a 5 gramas na alimentação diária [14], porém, o ideal é que você procure uma abordagem e avaliação funcional por um profissional qualificado que prescreva qual o melhor probiótico para o seu caso. Entretanto, adotar uma dieta mais natural possível, evitando açúcar em excesso e alimentos industrializados, pois estes alteram a microbiota intestinal, e adotando práticas de exercício.

Por Talita Alves, graduanda em Farmácia pela UFRJ.

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Acupuntura

O que é acupuntura?

A acupuntura é um método terapêutico que consiste na estimulação, por meio de agulhas, de pontos específicos da pele. O estímulo desses pontos tem como característica regular o fluxo energético que, de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, é responsável pela fisiologia do organismo. É um ramo da medicina criado na China, que juntamente a outras técnicas, para auxiliar no tratamento de algumas doenças. Na China, ela é uma das partes mais reconhecidas mundialmente da cultura do país e em 2010 foi consagrada como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). (UNESCO 2010)

Porém, porque a acupuntura é um estudo que envolve crenças do Taoísmo com medicina, ela é considerada uma pseudociência. Por esse motivo ela tem um papel mais complementar no mundo da medicina, sendo a terapia primária em apenas ocasiões raras (Ronan et al,. 1987).

História

A acupuntura é praticada como terapia desde a idade da pedra na China (~ 3000 anos a.c) e era feita com agulhas de pedra junto do uso de pedras quentes e vapor principalmente para dores no abdômen e nas articulações (Wen et al,. 2011).

Na mesma época, com o estudo da acupuntura foram delimitados os meridianos do corpo ou acupontos (Figura 1), ou canais de energia ou de fluxo de energia. A medicina chinesa está intrinsecamente ligada com o fluxo metafísico de energia pelo corpo, unindo os métodos medicinais com as crenças chinesas (Wen et al., 2011). 

Figura 1: Meridianos do corpo. Fonte: E-MTC. https://estudandomtc.com/meridianos-extraordinarios-metodos-de-aplicacao/ Acesso 03/02/2021

No século IV a.C. a acupuntura começou a chegar em outras regiões da Ásia, como o Japão, onde a prática da acupuntura foi explorada de modos diferentes, principalmente na cura de dores musculares para pessoas mais ricas e guerreiros depois de batalhas (Wen et al,. 2011).

No século II a.C. começou uma revolução da acupuntura na China que só terminou no século III e diversos novos tratamentos foram descobertos depois que as dinastias Chin, Han e Huei investiram muito capital nesse estudo. Nessa revolução, a acupuntura começou a ser usada no tratamento de mais de 200 doenças, incluindo malária, e o uso de ervas medicinais (no incenso e as suas essências) começou a ser utilizado junto com a prática acupunturista (Wen et al,. 2011).

Nos séculos seguintes não houve nenhuma outra grande revolução no estudo acupunturista, mesmo assim ainda houve muitas descobertas nesse campo. Até o final do século XIX a acupuntura era uma prática regular, acessível para a maior parte da população e era usada no tratamento de qualquer doença. Porém, ironicamente a mesma Dinastia Chin que no século II a.C. -que mais incentivou a revolução da acupuntura no começo século XX- baniu a prática na China. Mesmo com esse decreto, ela ainda era praticada de forma clandestina e depois que a Dinastia Chin foi substituída a acupuntura voltou a ser praticada (Wen et al,. 2011).

Durante a República Chinesa (de 1912 até 1949), os estudos não se desenvolveram, mas a prática continuou sem nenhuma restrição formal, continuando como uma tradição antiga que não foi totalmente encerrada. Na época da República Chinesa o estudo já tinha se difundido pelo mundo apesar de não ser considerado uma ciência exata (Wen et al,. 2011).

Apesar da acupuntura ter chegado ao ocidente no século XV, o maior marco para a acupuntura no ocidente foi na França, entre 1939 e 1941 quando foi publicado o livro acadêmico sobre acupuntura mais influente na Europa “L’acuponcture chinoise” (A acupuntura chinesa) (Ronan et al,. 1987).

Atualmente, a acupuntura é considerada uma parte chave do sistema de saúde chinês, sendo praticada em quase todas as regiões da China, além de quase todos os países da Ásia. No ocidente ela não é tão reconhecida, principalmente pela diferença cultural e religiosa, mas ainda é muito utilizada na fisioterapia ou na psicologia.

Métodos da acupuntura

A medicina tradicional chinesa é baseada no conceito de que existe um fluxo de energia (Qi) pelo corpo que é composto de dois tipos de energia, a Energia Correta (Zheng Qi) e a Energia Perversa (Xie Qi), mas normalmente essas energias fluem em equilíbrio, mas quando o fluxo delas está desequilibrado o corpo é mais sensível a doenças. As práticas da medicina tradicional chinesa são usadas para acessar e manipular o fluxo de Qi, onde são necessárias técnicas e ferramentas específicas por meio da inserção de agulhas nos meridianos do corpo (Scognamillo-Szabó et al,. 2010). 

Os meridianos e acupontos são regiões da pele que possuem baixa resistência, que a agulha consegue ter acesso a uma grande concentração de terminações nervosas sensoriais, que estão relacionadas intimamente com vasos sanguíneos, nervos, tendões e cápsulas articulares. Os acupontos estão localizados nos trajetos dos canais que transportam a energia pelo corpo humano. A agulha de acupuntura com seu potencial elétrico na ponta, quando é inserida no ponto de acupuntura, altera a polaridade dos canais de energia principais, iniciando uma estimulação desses canais o que contribui para uma melhor condução de Qi (Yamamura et al,. 2001). 

A estimulação dos acupontos possibilita acesso direto ao Sistema Nervoso Central  (Scognamillo-Szabó et al,. 2001). Estudos mostram que os receptores mais comuns dos acupontos são as terminações nervosas livres, fibras nervosas e células do sistema imune, os quais podem ser os componentes essenciais para que ocorra a deflagração das sensações e dos efeitos terapêuticos da acupuntura (SCHOEN,. 2006).

Desse modo, a acupuntura é justificada fisiologicamente, juntamente a crença da filosofia do Qi, ela também tem uma conexão com a medicina que é mais reconhecida cientificamente.  Estudos morfofuncionais identificaram plexos nervosos, elementos vasculares e feixes musculares como sendo os mais prováveis sítios receptores dos acupontos (Scognamillo-Szabó et al,. 2001).

Os efeitos desencadeados pelo tratamento com a acupuntura envolvem um mecanismo complexo. A anatomia dos acupontos (diferente de outros pontos do corpo) são essenciais no desencadeamento dos estímulos elétricos pelo organismo causados pela Acupuntura. O estímulo pela agulha de acupuntura gera efeitos locais e em nível do sistema nervoso central. Na reação local ocorre a liberação de diversas substâncias levando a um efeito anti-inflamatório e a uma analgesia local. O sistema nervoso central está envolvido na transmissão do estímulo nervoso criado pela agulha de acupuntura e na ativação do controle da dor, liberando substâncias opióides como beta-endorfina, encefalina e serotonina (Scognamillo-Szabó et al,. 2001). 

Os efeitos da acupuntura vão além do alívio de dores e inflamação. Para o tratamento da depressão, a estimulação desses locais pela inserção da agulha, via mecanismo bioquímico e nervoso aumenta a secreção de neurotransmissores a exemplo das endorfinas e da serotonina, da noradrenalina e da dopamina. Desse modo a acupuntura se configura como um meio fisiológico de se estimular a liberação dessas substâncias sem os efeitos colaterais atribuídos aos antidepressivos, tais como sonolência, diminuição da atenção, etc (Yamamura et al,. 2001).

As agulhas devem ser inseridas de acordo com algumas regras, incluindo o ângulo em relação a pele, a direção em relação ao fluxo e o tempo de introdução, para estimular e manipular os meridianos da forma correta. As agulhas normalmente são aplicadas por um mandril (Figura 2), que é um tubo que facilita a aplicação das agulhas do jeito apropriado. É importante também que todos os utensílios, incluindo as agulhas e o mandril, sejam descartáveis e que eles nunca sejam reutilizados, entortados ou quebrados (CRFSP 2019).

Figura 2: Foto ilustrativa de como pode ser aplicado uma das agulhas. Fonte: Cura Acupuntura. http://www.curaacupuntura.com.br/site/servicos/#.YCQrCuhKhPY Acesso: 09/02/2021

A acupuntura no Brasil

Figura 3: História da acupuntura no Brasil.

No Brasil, a partir de 2006 a regulamentação da medicina tradicional chinesa incluiu algumas práticas no Sistema Único de Saúde (SUS), e a acupuntura está disponível pelo SUS em 107 municípios por 19 estados do país. Para ter acesso a esse serviço é necessário ter uma requisição médica citando que o paciente apresenta dor ou estresse, marcar uma sessão e comparecer ao consultório, do mesmo modo que funciona com a maioria dos especialistas cobertos pelo SUS (Ministério da Saúde et al,. 2006). 

Aplicações da Acupuntura

Os possíveis usos (Figura 4) para acupuntura mudam muito dependendo da área de trabalho; hoje em dia ela é usada majoritariamente na Terapia Ocupacional, na Medicina, na Odontologia, na Psicologia e na Veterinária (Souza et al,. 2011).

  • Terapia Ocupacional: A acupuntura tem potencial de auxiliar em tratamentos fisioterápicos, diminuir a dor do paciente e relaxar músculos antes, durante e após o tratamento. (Barros et al,. 2006)
  • Medicina: melhorar o fluxo sanguíneo, estimular o sistema imunológico, aliviar a dor, auxiliar na expulsão de fluidos corporais (como fezes, urina e mucosa). (CRFSP 2019)
  • Odontologia: efeitos anti-inflamatório e analgésico na prática de odontologia cirúrgica, a acupuntura pode ser usada antes, durante e depois do procedimento (dos Santos Vianna et al,. 2008).
  • Psicologia: ajudar em várias linhas de tratamento, ansiedade, depressão, mania, compulsão, estresse, problemas de raiva, problemas com concentração e até fobias (Conselho Federal de Psicologia 2013).
  • Medicina Veterinária: melhorar o fluxo sanguíneo do animal, estimular o sistema imunológico, aliviar a dor, auxiliar na expulsão de fluidos corporais (como fezes, urina e mucosa), na recuperação fisioterápica e no relaxamento (Pantano et al,. 2011).
Figura 4: Possíveis usos para a acupuntura.

Apesar da acupuntura ter diversas possíveis aplicações para diferentes áreas, no SUS as áreas que mais recebem cobertura são Fisioterapia e Psicologia. Principalmente para tratamentos para dores musculares e recuperação de pacientes que sofreram acidentes ou para pacientes que têm algum distúrbio relacionado a estresse, respectivamente (Ministério da Saúde et al,. 2006).

Contra- indicações para o uso de acupuntura:

  • Pessoas em jejum.
  • Pessoas grávidas.
  • Aplicação de agulhas em áreas com tumores.
  • Aplicação de agulhas em áreas do corpo como: mamilos, umbigo, globo ocular e genitália externa.

-Felipe Heck, Graduando em Farmácia

Referências

-Ministério da Saúde. (2006) Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Brasília, Distrito Federal 1° Volume. 

-Ministério da Saúde. (2015). Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Brasília, Distrito Federal 2° Volume.

-Rocha, F. D. (2003). Hospício de São Paulo Fragmentos de Psychiatria. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 6(3), 164-179.

-Wen, T. S. (2011). Acupuntura clássica chinesa. Editora Cultrix.

-Barros, N. F. D. (2006). Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: uma ação de inclusão. Ciência & Saúde Coletiva, 11, 850-850.

-Ronan, Colin A. (1987) História Ilustrada da Ciência da Universidade de Cambridge. (4vol.) vol 2 – Oriente, Roma Idade Média. RJ, Zahar Ed, 

-Souza, E. F. A. A. D., & Luz, M. T. (2011). Análise crítica das diretrizes de pesquisa em medicina chinesa. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 18(1), 155-174.

-Palmeira, G. (1990). A acupuntura no ocidente. Cadernos de saúde pública, 6, 117-128.

-Scognamillo-Szabó, M. V. R., & Bechara, G. H. (2010). Acupuntura: histórico, bases teóricas e sua aplicação em Medicina Veterinária. Ciência Rural, 40(2), 461-470.

-Rizzo, S. S. M. V., & Henrique, B. G. (2001). Acupuntura: bases científicas e aplicações. Ciência Rural.

-Pantano, M. (2011). Bases Científicas da Acupuntura.

-Silva, P. H. P. S. E. (2011). REVISÃO DE LITERATURA: PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ACUPUNTURA VETERINÁRIA.

-UNESCO. (2010). Acupuncture and moxibustion of traditional Chinese medicine. 

-Conselho Federal de Psicologia. (2013) Acupuntura. Fonte: https://site.cfp.org.br/acupuntura/#:~:text=O%20recurso%20especial%20destaca%2C%20ainda,atendimento%20antes%20do%20in%C3%ADcio%20da Acesso: 12/02/2021

-dos Santos Vianna, R., de Souza, A. G., da Silva, B. C., Berlinck, T. Á., & Dias, K. R. H. C. (2008). A Acupuntura e sua aplicação na Odontologia. Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde/Brazilian Journal of Health Research.

-CRFSP, Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. (2019). Acupuntura

Medicina Tradicional Chinesa. 2ª edição. 

-Yamamura, Y. (2001). Acupuntura tradicional: A arte de inserir. 2. ed. São Paulo:

Roca, 2001. 919p.